Now then, Mardy Bum O8: Look so fine that I really wanna make you mine


Estou completamente suja. Há pequenas marcas de dedos azuis na minha barriga e eu os contorno com meus próprios dedos pensando nas mãos que estavam lá minutos atrás. Minha camiseta está manchada e minha calça precisa ir para a máquina agora mesmo, mas eu abro a geladeira, pego uma cerveja e sento no chão, encarando o nada.
O gargalo gelado toca meus lábios e sinto falta do contato quente dos de Alex.
Faz quase dois meses - desde que cheguei em San Diego - que ninguém me beija daquela maneira. Porra, eu não consigo me lembrar de ninguém me tocando e mandando tamanha carga de eletricidade para o meu corpo, em tempos! Não é como se eu fosse a menininha assustada com a resposta do seu corpo quando em contato com de outro cara... Eu tinha deixado isso para trás, lá no Brasil, há pelo menos um ano. Mas havia algo ali, meu lábio inferior quase latejava me impedindo de esquecer.
Um beijo é um beijo em qualquer lugar do mundo. Um beijo é um beijo em Minas ou em San Diego, mas o beijo dos meus ex namorados e afins não eram beijos, comparados com os de Alex Turner. Havia confiança, havia desejo reprimido e havia tanta, tanta experiência. Eu apostava que havia garotas prontas para transar com Alex no backstage de qualquer show. Nah, havia garotas prontas para transar com Alex em qualquer lugar!
Sabia que ele tinha tido tantas garotas em sua cama e tantas bocas para beijar quanto pessoas eu tive que servir todas as noites no Hard Rock. Minhas experiências com beijos e sexo, por outro lado, eram um numero significantemente pequeno. Eu não podia competir com modelos, apresentadoras de TV e atrizes, mas ainda sim havia uma pequena – minúscula - parte de mim confiante. Oh, Deus, o jeito egocêntrico de Turner estava passando pra mim por osmose?!
Se eu pudesse dar três conselhos, três regras básicas de conduta para alguma garota, seria algo mais ou menos assim: nunca corte sua franja sozinha; não aja como umamenina se não quer que o cara aja como um menino e protele o contato sexual, se estiver interessada. Se o cara está realmente interessado em você, ele não vai se importar com rejeições e foras a là Raul Seixas – tente outra vez–. Se ele cair fora, o ganho é seu: não vai perder tempo com um cara que não vale a pena. Claro que essa ultima regra só é valido se você quiser algo mais que carnal.
Bagunço a franja e termino minha cerveja. Mas eu não queria nada com Alex, queria?Nada além do que ele havia me dado, essa tarde, pelo menos. Havia sido só um beijo, eu não pretendia idealizá-lo ou algo parecido. Sacudo a cabeça tentando expulsar um certo britânico do pensamento.
Termino de limpar o chão, enquanto a tinta que respingou ainda está fresca e faço um esforço para reorganizar os móveis, sem encostar nada às paredes. Gostei dessa cor, analiso com um sorriso, deu vida ao lugar. Me pergunto se Pablo vai gostar e acho que ele estará mais interessado em ouvir sobre o que aconteceu, do que em com a tinta ficou. Tiro as roupas e caminho de roupa de baixo até o notebook, selecionando uma playlist para ouvir durante o banho.
Meus olhos passam por Crying Lightning, When The Sun Goes Dow e Teddy Picker, mas me sinto meio estranha por ouvir a voz de Turner, estando seminua. Seleciono todas as musicas daquela pasta e entro no chuveiro, decidindo deixar a escolha ao destino. Quando estou saindo do banho, a voz rouca e sugestiva de Crying Lightning começa a ecoar pelos azuleijos e uma estrofe em especial retém minha atenção.
Stood and puffed your chest out like you'd never lost a war
(Levantou-se e estufou seu peito como se nunca tivesse perdido uma guerra)
And though I tried so not to suffer the indignity of a reaction
(E apesar de eu ter tentado não sofrer a indignação de uma reação)
There was no cracks to grasp or gaps to claw
(Não houve rachaduras ou lacunas para agarrar)
Visto uniforme, solto os cabelos castanhos bastante escuros que me fazem ser chamada de morena – apesar da pele alva – e os escovo ouvindo o resto da musica. Deixo eles soltos e passo um batom vermelho discreto. Deixo um bilhete para Pablo com uma carinha feliz e me dirijo para meu emprego noturno, no Hard Rock.
O lugar já está aberto e eu preciso de um olhar de reprovação de Jesse e do relógio grande do canto, para perceber que estou atrasada. Quinze minutos fazem toda a diferença quando você está sozinha no bar e mordo o lábio inferior, por ter deixado Jesse na mão. Agilizo os drinks e pedidos de algumas mesas e vou até ele, para pedir desculpas.
— Você não costuma se atrasar. — é tudo que ele diz, sem me olhar. Estou encrencada.
— Eu sei, desculpa. Foi uma tarde louca, tive que pintar o apartamento. Finalmente consegui a reforma que tava querendo.
— Pensei que não tivesse a grana ainda. Pablo conseguiu algum papel?
Coço a garganta. — Não, eu consegui outro emprego.
Jesse me olha com curiosidade e da um pequeno sorriso. — Bom para você, Olivia. Com quem?
— Os caras daquela banda — evito contato visual — Os Arctic Monkeys.
Ele não diz nada por segundos que parecem horas e eu me pergunto porque as coisas começam a ficar tão estranhas. Eu trabalho para ele. Nós somos bons amigos, mas não passa disso, certo?
— Anda saindo bastante com aquele cara, ultimamente...
— Nem tanto. — digo, mesmo não sendo exatamente verde.
Jesse me olha e separa alguns copos. — Você tá dormindo com ele?
— Não! Não! Deus, não. — minha reação incitou duvidas nele e eu decido ser honesta com o cara que me ajudou desde que cheguei na cidade — Nós só... ficamos.
— Eu pensei que você tinha aquela política de não ficar com seus empregadores.
— E tenho. Não foi nada planejado, só... aconteceu.
Jesse vira para mim e como continuo colocando canudos em copos e despejando uma batida em outros, ele tira da minha mão e me faz encará-lo. Ele veste a camisa do Hard Rock e é meu chefe, mas as vezes eu me esqueço que ele tem só dois anos a mais que os meus vinte e um. E ele é bonito, o cabelo castanho claro que pode ser chamado de loiro, os olhos claros e a barba por fazer. Não tenho certeza se eu nunca notei esse tipo de coisa ou só ignorei. Tento ignorar mais uma vez, quando ele segura meus dedos de maneira gentil.
— E porque nunca “só aconteceu” com a gente?
Mas hein?
O impensado acontece e Jesse dá um passo em minha direção, segurando meu queixo e levantando-o. Nossos olhares se cruzam e ele me impede de evitar o contato, mas há algo em mim gritando que isso é errado, tão, tão errado. Sua mão desce para o meu pescoço e quando ele se move alguns centímetros, meu corpo recua com convicção para trás.
Seu rosto se torna distante e ele olha pro relógio, pega os drinks e sai, sem dizer nada. Minha cabeça não consegue formular nenhum pensamento coerente. Quando foi que eu fiquei tão desejável assim? Até semana passada eu era a estrangeira desastrada e agora eu beijo caras como Alex Turner e recebo investidas de caras como o Jesse.
Me sirvo de uma dose de tequila e começo a servir todas as outras mesas e a noite começa a passar mais rapidamente, enquanto eu me impeço de pensar em qualquer outra coisa que não o trabalho. É difícil, mas o expediente está puxado e eu acabo perdendo meus pensamentos entre tantos pedidos.
***
Recebo uma mensagem de texto de um numero desconhecido pouco mais de 11 horas do dia seguinte, pedindo uma infinidade de guloseimas. Nick – como está assinado no final do campo da mensagem – pede duas porções de fritas com cheddar e bacon, dois hambúrgueres do Burguer King, pelo menos três cervejas, dois cafés e alguma coisa doce. Faço uma nota mental para comprar um pote de Nutella ou algo parecido para o baixista mais adorável que há.
É a primeira vez que eu realmente vou fazer algo de assistente e estou animada. Não é muito – na verdade, é extremamente simples -, mas ao menos não tem muito a ver com drogas, sexo e prostituta. O episodio da festa de alguns dias atrás parece mais distante do que realmente é e a ideia de Alex pensar que aquilo poderia ser considerado trabalho ainda me dá nos nervos.
Pablo ainda está dormindo e decido não acordá-lo. Colado à geladeira um post it rosa – nós temos uma pequena escala de cores que indicam o que o bilhete diz. Rosa é boa noticia, azul é “dei uma saída”, verde é um pedido para ir ao supermercado e os brancos são para assuntos aleatórios -, diz que ele conseguiu o papel num comercial de cosméticos masculinos e eu dou um grande sorriso genuíno. Meu amigo mexicano é bonito, bem humorado, um pouco escandaloso, mas tem talento e fico feliz que as coisas estejam finalmente dando certo.
Visto um vestido verde marcado na cintura, mas folgadinho. É mais feminino do que tudo que eu costumo vestir, mas contrabalanceio com botinhas pretas e uma bolsa da mesma cor, bem grande. Prendo o cabelo num coque frouxo e desço para procurar um taxi, que me leva até três lugares diferentes para conseguir tudo que me passaram na lista. Gasto uma grana preta com todos os fast-foods e com o taxi, mas sei que eles provavelmente vão me reembolsar.
Antes que eu o mande voltar para o hotel, outra mensagem chega me dando o endereço de um apartamento no centro da cidade. Indico o caminho ao motorista e vinte minutos depois, estou descendo com os braços cheios de comida para quatro caras famintos, sem ter ideia de como abrirei portas. Por sorte, o porteiro é educado – ou gostou das minhas pernas, porque ele olha para baixo o tempo todo – as abre pra mim. Digo “obrigada” em português por reflexo e ele parece confuso. Quase rio da minha confusão, enquanto pego o elevador.
A porta é aberta por um cara que não reconheço e ele provavelmente está ciente de que a assistente irá chegar carregada de comida, porque me deixa entrar sem dizer nada. Ele também não me ajuda, acho válido ressaltar, e eu resmungo “obrigada” de má vontade.
Vários sorrisos se abrem quando me veem, mas sei que não é exatamente para mim. Meu rosto está completamente escondido atrás das sacolas de viagem de papel pardo e papelão. Nick é o primeiro a pegar um saco de hambúrguer e uma cerveja, seguido de Jamie que faz o mesmo. Matt procura pelas fritas com bacon e um café – olá, ressaca! -. Alex espia tudo nos meus braços, pega uma cerveja e abre o pote de Nutella, abrindo e metendo o dedo.
— Gostosa... — diz olhando a parte interna do pote com interesse. Depois levanta a cabeça e me da o sorriso mais lindo e cretino do mundo. — E a Nutella está boa também.
Eu rio e coloco todo o resto das coisas em cima da mesa mais próxima. Dou uma analisada no lugar e vejo que além dos Monkeys, há pelo menos duas pessoas com alguns equipamentos com aparência cara. É um estúdio improvisado, percebo olhando os instrumentos alinhados num canto sem janelas. Matt está comendo seu hambúrguer entretido sentado no banquinho da bateria e Jamie e Nick num sofá puído alguns metros depois.
Alex está mais bonito do que eu queria que estivesse com uma camisa branca de manga comprida enrolada um pouco abaixo do cotovelo. Ele beberica a cerveja e come as batatas fritas, com um olhar perdido atravessando uma televisão. É um talk-show com um sofá bonito e uma garota de cabelos castanhos, franja e mais claros nas pontas está entrevistando uma banda qualquer.
— Ela é bonita — digo com os braços cruzados, despreocupadamente. — Sempre tive vontade de descolorir as pontas do meu cabelo ou ficar ruiva, mas nunca tive coragem.
Ele está roendo a unha do polegar, mas concorda quando elogio a entrevistadora e se vira em minha direção.
— Gosto do seu cabelo, Olivia. — ele puxa minha cintura pra mais perto e eu viro o rosto, tentando me esquivar sem muita convicção. Seus olhos percorrem minhas pernas — E das suas calças.
A mão de Alex desce na lateral do meu corpo lentamente e com rapidez ele puxa a barra do meu vestido para cima, pelo menos uns cinco centímetros. Estapeio sua mão e braço e dou dois passos confiantes e irritados para trás.
— Você não quer mais nada, não? Um leitinho quente, um café na cama? — pergunto cruzando os braços no peito e arqueando uma sobrancelha.
— Claro — responde dando de ombros —, mas pode ficar tranquila que o leitinho quente eu providencio. E aceito o café, apesar de não gostar, desde que venha com você na cama.
Reviro os olhos e o cara que abriu a porta para mim avisa que o ensaio vai começar, fazendo com que todo mundo termine de comer e beber às pressas e se dirija até o canto onde os instrumentos estão. Sento na mesa e assisto todos se ajeitarem atrás de seus fieis companheiros da musica. Matt – ou Agile Beast - podia ser colado ao banquinho da bateria, desde que tivesse rodinhas e ele estaria feliz; Jamie usa a guitarra com um pouco menos de adoração; Nick mexe nas cordas do baixo de maneira possessiva e Alex pega sua guitarra como se fosse um segundo braço, uma parte a mais de seu corpo. Ele passa a alça pelo pescoço e pisca para mim.
Gosto esses caras, percebo com um olhar contemplativo. E não é só pela musica incrível que eles conseguem montar, pelos arranjos perfeitos ou pelas letras geniais; eles são caras bacanas. Caras que comem muita porcaria e bebem mais do que deveriam, mas caras legais.
O outro cara – aquele que mexe com os equipamentos e não o que abriu a porta do apartamento – me pede um favor. Ele quer que eu filme o ensaio, porque Alex gosta de ver onde ele precisa melhorar. Me entrega uma câmera semi profissional e um tripé, mas decido filmar ao estilo antigo e tento manter minhas mãos o menos tremulo possível.
From The Ritz To The Rubble, Netles, Fake tales from San Francisco, D is for Dangerous, Only you know e mais musicas foram passando, enquanto eu filmava o ensaio. Havia erros e piadas internas, mas eu ria porque a dinâmica da banda era muito boa. Quando a lista chegou a décima música, meu pulso não aguentava mais e coloquei a câmera no tripé. A bateria também estava alta e eu comecei a ter dores de cabeça.
Procurei por um remédio na bolsa, mas acabei encontrando meu iPod. Sentei num canto afastado, roubei umas batatinhas, uma cerveja e fechei os olhos ao som da minha própria playlist. Só percebi que cai no sono quando Alex senta no meu lado e tira um lado do fone da minha orelha.
— Tá ouvindo... — ele escuta a musica por alguns segundos e balança a cabeça em reprovação — Jet enquanto tem um show particular dos Arctic Monkeys? Estou ofendido.
— Eu cai no sono, na verdade, mas essa música é legal.
Nós ficamos em silencio pelo minuto seguinte, enquanto a voz quase gritada do vocalista canta e a guitarra. A musica – que se chama Are you gonna be my girl? do Jet - é muito boa, daquelas que fazem você ter vontade de sair num pega de carro ou algo tãobadass.
Well, it's 1, 2, 3 (Bom, é um, dois, três)Take my hand and come with me (Segure minha mão e venha comigo)Because you look so fine (Porque você é muito linda)That I really wanna make you mine (Que eu realmente quero te fazer minha)
I say you look so fine (Eu digo você é tão linda)And I really wanna make you mine (E eu realmente quero te fazer minha)
Oh, 4, 5, 6 c'mon and get your kicks (Oh, quatro, cinco, seis, vamos lá e pegue suas coisas)Now you don't need that money (Agora você não precisa daquele dinheiro)When you look like that, do ya, honey? (Quando você tem esse rosto, não é querida?)
— Parece ter sido escrita pra você... — ele diz me olhando de canto de olho.
Dou de ombros e um pequeno sorriso, porque eu sempre senti que essa musica fosse um pouco minha. Um pouco pra mim. Essa foi a trilha sonora da minha adolescência, quase!
— Talvez tenha sido.
Alex dá um pequeno sorriso torto, arruma o cabelo e vira para me olhar. Depois ele começa a cantar e apesar do alcance vocal dele ser diferente da do vocalista do Jet, fica absurdamente sexy. Me pergunto se há algo que não soe musicalmente delicioso quando dito com aquele sotaque de Shefield.
— Big black boots, long brown hair, she's so sweet with her get-back stare… — (Grandes botas pretas, longos cabelos castanhos, ela é tão doce com aquele olhar de "vou te pegar".)
O lugar inteiro está imersa em suas próprias conversas, não há ninguém inspecionando o que estamos fazendo sentados num canto qualquer; ninguém se importa. A mão de Alex segue em direção ao meu rosto e ele puxa meu queixo para cima, em sua direção, enquanto canta os próximos versos:
— I know we ain't got much to say before I let you get away, yeah — levanto os olhos e ele está me olhando daquela maneira e eu sou invadida com tantas sensações que me desorientam e meu coração começa a bater mais rápido e talvez até ele ouça e eu me odeio por estar parecendo uma garotinha, mas não há nada que eu possa fazer além de encarar seus lábios, aprisionada na minha própria musica — I said… are you gonna be my girl?
— Ei, Turner — Jamie grita do outro lado da sala com os olhos fixados na TV, nos despertando — sua namorada tá entrevistando o Julian Casablancas. Olha só!
Namorada? Mas que diabos...

3 comentários:

  1. 'Namorada? Mas que diabos...'
    tenho um ataque em 3, 2, 1...
    OOOOOOOOOOOOOOOOOOO:
    hahahhahahahah super duper hiper chocada.
    achava que dessa vez ele nao fosse ser tão Alex-cafajeste, mas tava enganada kkkkkkkkkkkk
    bom, nao deixa de ser perfeito u.u kk

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  2. Adoro essa música, e Olivia vai ter que desbancar Alexa? Quero só veer!

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  3. "— Gostosa... — diz olhando a parte interna do pote com interesse. Depois levanta a cabeça e me da o sorriso mais lindo e cretino do mundo. — E a Nutella está boa também." ACHO Q MORRRI KKKKKKKKKKKKK NAMORADA?????? MEU CORAÇÃO, ACHEI QUE DESSA VEZ NÃO IA TER OUTRA NO MEIO

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